Brasil piora em 8 de 11 categorias do relatório da fome da ONU
Brasil – O país deu um passo importante ao sair do Mapa da Fome, conforme apontado pelo relatório “Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo”, divulgado na última semana pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura). No entanto, o documento traz um alerta preocupante: o país regrediu em 8 das 11 categorias analisadas, com deterioração em todos os indicadores relacionados à nutrição infantil. Esses dados expõem desafios persistentes na luta contra a insegurança alimentar e a má nutrição, apesar do progresso em um dos índices mais críticos.
O relatório da FAO, que avalia a segurança alimentar global, destaca o Brasil em quatro tabelas específicas. Entre os avanços, a saída do Mapa da Fome indica que menos de 5% da população brasileira enfrenta fome crônica, um marco alcançado pela primeira vez desde 2014. Contudo, os retrocessos em outras áreas são alarmantes. A desnutrição crônica em crianças menores de 5 anos aumentou, com 7,2% das crianças apresentando baixa estatura para a idade, um crescimento em relação aos 6,8% registrados no relatório anterior. Além disso, o sobrepeso infantil também avançou, afetando 8,3% das crianças, um reflexo de dietas inadequadas e do aumento do consumo de alimentos ultraprocessados.
Outro ponto crítico é a anemia em mulheres em idade reprodutiva, que subiu para 18,6%, um aumento de 2 pontos percentuais em comparação com os últimos cinco anos. A insegurança alimentar moderada ou severa também cresceu, atingindo 29,4% da população em 2024, contra 27,6% no período anterior. Esses números mostram que, embora a fome extrema tenha diminuído, milhões de brasileiros ainda enfrentam dificuldades para acessar alimentos de qualidade ou em quantidade suficiente.
A deterioração nos indicadores infantis é especialmente preocupante. Além da desnutrição e do sobrepeso, a prevalência de baixo peso ao nascer aumentou, alcançando 8,7% dos recém-nascidos, contra 8,1% no último levantamento. Esses dados sugerem que os desafios nutricionais começam antes mesmo do nascimento, influenciados por fatores como a saúde materna e o acesso a cuidados pré-natais. A FAO também aponta que a amamentação exclusiva até os 6 meses de vida caiu para 41,3%, uma queda de 3,5% em relação aos dados anteriores, agravando os riscos à saúde infantil.
Apesar da saída do Mapa da Fome, o relatório sublinha que o Brasil enfrenta desigualdades regionais e socioeconômicas que dificultam avanços consistentes. Regiões como o Norte e o Nordeste apresentam índices de insegurança alimentar mais elevados, enquanto populações vulneráveis, como indígenas e comunidades rurais, continuam desproporcionalmente afetadas. A inflação de alimentos, que atingiu 4,5% em 2024 segundo o IBGE, e a redução de programas sociais nos últimos anos são fatores que contribuem para esse cenário.
Os dados da FAO servem como um chamado à ação. Para reverter a regressão, especialistas sugerem o fortalecimento de políticas públicas, como a ampliação do Bolsa Família, a promoção de agricultura familiar e a educação nutricional. Investir em saúde materno-infantil e enfrentar as desigualdades estruturais será essencial para garantir que o Brasil não apenas mantenha sua posição fora do Mapa da Fome, mas também melhore a qualidade de vida de sua população.
Créditos: Poder360


