Após encontro com Dilma, Nobel da Paz diz que Brasil sofre ‘golpe de Estado’
BRASÍLIA — Nobel da Paz, o argentino Adolfo Pérez Esquivel afirmou que um “golpe de Estado” está em curso no Brasil. Pérez encontrou a presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto nesta quinta-feira, onde afirmou que o caso brasileiro tem a “mesma metodologia” de “golpes” que Honduras e Paraguai, e que espera que o Mercosul e a Unasul não reconheçam o eventual governo de Michel Temer. Os dois blocos, entretanto, têm dado sinais de que não rejeitarão o impeachment de Dilma.
— Logicamente, temos muito claro que o que está sendo preparado aqui é um golpe de Estado encoberto. É o que nós chamamos de golpe branco — declarou Pérez.
Alfredo Pérez ressaltou que, apesar de o processo de impeachment brasileiro não ter a participação das Forças Armadas, configura-se um “golpe” com a “mesma metodologia” de casos como Honduras e Paraguai, que estavam sob o comando dos presidentes Manuel Zelaya e Fernando Lugo, respectivamente.
Em 2012, Dilma e a então presidente argentina Cristina Kirchner estiveram à frente da aplicação da cláusula democrática do Mercosul para suspender o Paraguai do bloco.
Pérez disse ainda que o eventual impeachment significaria um “retrocesso” também para o continente latino-americano, e que espera que a Unasul e o Mercosul rejeitem o processo — por mais improvável que essa ação seja. Isso porque, no Mercosul, a Venezuela é um único membro que concorda com a tese de “golpe” no Brasil. Já na Unasul, a reunião do último sábado não abordou o tema.
Alfredo Pérez falou também que a esquerda na América Latina precisa fazer uma “autocrítica”, principalmente no que se refere à execução de políticas sociais.
— A esquerda muitas vezes tem poucos discursos e poucas práticas — disse Pérez, que complementou: — É muito contraditório. Quando se fala em políticas sociais, tem-se que trabalhar essas políticas sociais. Não ficar somente nos discursos.
O argentino, laureado com o Nobel da Paz em 1980 pelo enfrentamento à ditadura argentina, foi um dos coordenadores do Serviço Paz e Justiça na América Latina, ONG que prega a não-violência e a defesa dos Direitos Humanos. O organismo é consultivo das Organização das Nações Unidas (ONU) e tem sede também no Brasil.