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Com time da Marinha, Fla decide hoje Brasileirão feminino

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São 8h30m de uma manhã quente no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), o quartel da Marinha na Penha, Zona Norte do Rio. Um grupo de 30 jogadoras se prepara para o último treino antes da primeira partida da final do Brasileirão feminino, a ser disputada às 19h desta terça-feira, em Xerém, entre Flamengo e Rio Preto (SP). Elas usam e defendem o uniforme do rubro-negro da Gávea, mas poderia ser outro. Entre 2009 e 2014 foram Vasco, depois Botafogo. A rigor, apenas a camisa as liga ao clube. A maneira como a participação delas no torneio é viabilizada a cada ano revela tanto sobre os dilemas do futebol feminino do país quanto a quase clandestinidade da competição.

A proximidade dos Jogos Mundiais Militares de 2011 fez as Forças Armadas montarem equipes, entre elas a de futebol feminino. Mas para disputar competições civis, organizadas por CBF e Federações, era preciso um acordo com um clube filiado às entidades. Daí a busca por camisas, preferencialmente de peso, para dar visibilidade ao time. Mais recentemente, a lei do Profut exigiu dos clubes investimentos numa modalidade que, no entanto, não gera recursos. “Vestir” o time da Marinha foi a saída ideal para o Flamengo, ainda que a imposição da lei não tenha entrado em vigor.

— O governo federal tem interesse e achamos que era obrigação do Flamengo atender. E o futebol feminino é olímpico. Como temos boa relação com a Marinha, foi interessante. Mas sem sangrar o futebol masculino — disse o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, que diz não ver artificialismo na parceria. — O fato de o time já ter sido Vasco e Botafogo mostra que a Marinha está evoluindo, escolhendo o clube certo.

COM PATROCÍNIO DE R$ 10 MILHÕES, CBF TERCEIRIZOU CAMPEONATO

O Flamengo cede a Gávea para jogos, os uniformes e a inscrição das atletas, registradas como amadoras nas federações. No mais, o projeto é tocado pela Marinha. O técnico é Ricardo Abrantes, ou Tenente Abrantes, auxiliado pelo Tenente Celso Silva e pelo preparador físico, o Tenente Saulo. Os três, contratados por concurso pela Marinha, dividem o tempo entre a equipe e as obrigações militares. Mas não foi por causa delas, mas sim por compromissos pessoais que o treinador do time não esteve presente no último treino antes da decisão. Na montagem do elenco e no dia-a-dia, a participação do Flamengo na gestão da equipe inexiste.

Um comprometimento maior dos clubes de camisa é desejo dos promotores do campeonato. A CBF terceirizou a organização do Brasileirão feminino para a Sport Promotion, empresa de marketing esportivo de São Paulo. O patrocínio de R$ 10 milhões por ano da Caixa Econômica Federal banca os custos com passagens, hospedagem e alimentação dos times nos 70 jogos do campeonato.

— A participação de Flamengo, Corinthians, Santos e Vasco deu um upgrade, queremos trazer a rivalidade do masculino para nosso campeonato, quanto mais houver, melhor. No caso do Flamengo, é o time da Marinha, claro que precisa ter um comprometimento maior, só dar a camisa é pouco — diz Paulo Bastos, sócio-diretor da Sport Promotion. — Acreditamos que, com o Profut, isso possa aumentar nos próximos anos.

Do elenco rubro-negro da Marinha, 25 jogadoras são militares, contratadas pela Força com soldos pouco superiores a R$ 3 mil e patente de Terceiro Sargento. Quase todas moram no quartel e passaram por treinamentos militares, incluindo aulas teóricas e até acampamento. Uma etapa de que a baiana Larissa, artilheira do time, escapou.

— Quando fui contratada, a patente era mais baixa e não foi preciso. Outras fizeram o acampamento. Mas fiz o curso, é um choque. Você aprende sobre hierarquia, acaba se reeducando — afirma.

DUAS GERAÇÕES DA SELEÇÃO NO FLA

Para a reta final, a CBF promove um draft entre as jogadoras da seleção brasileira permanente. O Flamengo ficou com a meia Bia e a lateral Maurine. Estas, provenientes de uma estrutura avançada na Granja Comary, encontram no quartel campos em estado não mais do que razoável, mas também musculação, estrutura médica e de fisioterapia raras nas equipes femininas do país. No entanto, a entrada dos clubes de camisa no Campeonato Brasileiro, que ainda teve Santos e Corinthians, por exemplo, ainda não garante às jogadoras o acesso aos CTs dos homens. O Corinthians, por exemplo, fez uma parceria com o Audax, em Osasco.

— Claro que a gente queria um campo melhor, mas não adianta ficar sonhando com algo que não existe. É a realidade do futebol feminino. E a Marinha cuida bem das meninas, é melhor do que na maioria dos clubes. Desde que comecei, houve uma evolução. E usar a camisa do Flamengo chama atenção — disse Maurine.

Além dos treinos, o esforço diário é por divulgar um campeonato que, mesmo tendo quase todas as partidas com portões abertos, reúne públicos baixíssimos.

— A gente usa o Instagram, Facebook, tudo para divulgar os jogos. Faze as pessoas saberem que vai ter jogo. Tem um grupo que segue. Mas é difícil. No último jogo na Gávea foi um grupo de meninas com uma bandeira. Foi legal — contenta-se Maurine, de 30 anos.

Além do reforços das duas jogadoras de seleção, há no Flamengo que faz a final hoje outras jogadores com passagem pela amarelinha. Titular na zaga, Tânia Maranhão é a mais experiente. Aos 41 anos, desde 2009 na Marinha, ela mora no Cefan e ainda nem pensa em parar.

— O grande problema do futebol feminino no Brasil é não ter investimento na base, ao contrário do que ocorre nos EUA e outros países. Espero que mude. Estou feliz por ainda estar jogando e ter a oportunidade de vestir a camisa do meu time de coração, meus ídolos eram Zico e Júnior quando comecei a ver futebol lá em São Luís — diz Maranhão.

O local da decisão desta terça-feira não ajuda muito. A comissão técnica preferia jogar na Gávea, mas terá que ir ao distante Los Larios, onde a expectativa de público é pequena, apesar da entrada franca.


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