Exposição mostra o declínio do Hotel Glória
Da janela de seu quarto, no 11º andar, a artista plástica Regina Cabral Mello testemunhou um episódio triste do Rio. Vizinha do Hotel Glória, ela viu boa parte do edifício vir abaixo com as obras iniciadas, e depois abandonadas, pelo empresário Eike Batista. Incomodada com tudo a que assistia de camarote, Regina resolveu transformar aquelas cenas em arte.
— O quarto em que eu durmo dava para um anexo do hotel que foram derrubando. Quando terminaram, começaram a demolir, com britadeiras, uma das faces da pedreira do Outeiro da Glória, um marco do Rio, para a construção de uma garagem. Todo dia, eu ia até a janela e fotografava — explica Regina, que inaugura na terça-feira, no Centro Cultural Candido Mendes, em Ipanema, a exposição “A Glória e a queda”.
Para a mostra, que pode ser vista até 16 de abril, ela selecionou 28 fotografias, reunidas em 16 trabalhos, que revelam a transformação de uma paisagem e de uma arquitetura escondida da população pelos edifícios da Rua do Russel. O azul predomina nos trabalhos da artista, que lembram pinturas. Numa das imagens mais significativas, aparece o véu que reproduz fielmente a fachada, usada inicialmente para cobrir o prédio em obras, jogado entre os entulhos.
Regina mora há 33 anos em um apartamento herdado dos avós no Edifício Itacolomy, de estilo art déco, dos anos 1930. Ele é vizinho do Glória, primeiro cinco estrelas do Brasil. O hotel foi aberto junto com a Exposição Internacional de 1922, com projeto do arquiteto francês Joseph Gire, o mesmo do Copacabana Palace e do edifício A Noite.
— É de partir coração o que fizeram com o hotel. É um crime. Mas a exposição não é um protesto. As imagens não são degradantes. Consegui, pelo meu olhar, transformar algo horrendo, pavoroso, em um trabalho bonito — diz.