Negligência: família processa Hospital Santa Júlia após mulher ficar quatro horas sangrando, ter pernas amputadas, entrar em coma e morrer
Manaus – Uma ação judicial movida pela família de Elizabeth da Costa Saraiva da Silva contra o Hospital Santa Júlia expõe uma história de sofrimento que começou com uma cirurgia cardíaca rotineira e terminou em amputações, coma prolongado e morte. O caso, iniciado há quase oito anos, permanece estagnado na Justiça amazonense devido à falta de perícia médica, levantando suspeitas de corporativismo no setor de saúde local.
Elizabeth foi internada no hospital privado em outubro de 2017 para uma intervenção no coração. Após evolução inicial positiva e alta da UTI, a paciente foi transferida para o quarto. Lá, sofreu uma hemorragia intensa no pulso. De acordo com os autos do processo, ela permaneceu cerca de quatro horas sangrando profusamente, com familiares clamando por socorro, enquanto a equipe médica limitava-se a curativos improvisados que não continham o sangramento.
A demora no atendimento adequado levou a um choque hipovolêmico grave, seguido de infecções generalizadas e falência múltipla de órgãos. Como consequência, Elizabeth precisou amputar ambas as pernas. Ela entrou em coma por mais de 40 dias e faleceu em 9 de janeiro de 2018.
A filha da paciente, autora da ação, relata o impacto devastador na família: “Minha mãe morreu há quase oito anos. Ela sofreu, foi mutilada, ficou em coma, e até hoje não existe uma resposta. A maior dor é ver que ninguém é responsabilizado”. A família busca indenização por danos morais, argumentando que o hospital violou deveres básicos de vigilância e resposta emergencial, além de pedir reparação para prevenir casos semelhantes.
O processo, que acusa o Santa Júlia de negligência grave e omissão de socorro, enfrenta um obstáculo intransponível: a ausência de perícia médica judicial. Diversas tentativas de nomear peritos fracassaram, com recusas e impedimentos concentrados entre profissionais da área médica em Manaus. A família denuncia um possível “ambiente de proteção interna” entre médicos, que evitam emitir laudos contra colegas, travando a prova técnica essencial para o julgamento.
Esse impasse não apenas prolonga a dor da família, mas questiona a efetividade do sistema judiciário em casos de erro médico: como avançar uma ação quando a expertise necessária depende de um grupo que, segundo as alegações, se protege mutuamente?
O caso de Elizabeth reforça preocupações recorrentes sobre a segurança em hospitais privados na capital amazonense, onde protocolos de emergência e responsabilidade podem falhar em momentos críticos.
A ação segue tramitando na Justiça do Amazonas.
Infelizmente, o Hospital Santa Júlia volta a ser alvo de graves acusações de negligência em um caso mais recente: a morte do menino Benício Xavier de Freitas, de 6 anos, ocorrida em novembro de 2025. O criança foi internada com suspeita de laringite e faleceu após receber dose incorreta de adrenalina por via intravenosa, em um atendimento marcado por uma sucessão de erros sistêmicos, conforme apontado pela Polícia Civil do Amazonas.
Leia também:
Urgente: Justiça revoga habeas corpus e médica pode ser presa pela morte de Benício em Manaus
“Foi overdose”: Benício recebeu 15 vezes a dose de adrenalina recomendada, afirma médica da UTI
“Sobrou só pra técnica”: Sikêra Jr critica desigualdade de classe entre médicos e técnicos de enfermagem no Caso Benício; vídeo
Caso Benício: equipe escondeu prescrição no jaleco por medo de que médica a alterasse após erro na adrenalina
Justiça nega pedido de liberdade para técnica que aplicou adrenalina em Benício em Manaus


