“Meu avô morreu por causa de negligência médica”, diz homem que denunciou descaso no Hospital Platão Araújo; veja vídeo
Manaus – Um caso chocante e comovente está escancarando o estado crítico da saúde pública do Amazonas. Manoel Nascimento, de 84 anos, foi internado no Hospital e Pronto-Socorro Platão Araújo, na Zona Leste de Manaus, após ser resgatado de uma situação de maus-tratos no dia 2 de agosto. Ao invés de cuidados médicos e acolhimento, o idoso encontrou abandono, negligência e, segundo familiares, um tratamento “degradante e desumano” por parte do sistema público de saúde. No dia 7 de agosto, ele morreu dentro da unidade hospitalar, e a família acusa diretamente a gestão do hospital pela morte.
A denúncia foi feita por Raimundo, neto do idoso, à equipe do Portal e TV CM7 Brasil. De acordo com ele, desde o primeiro dia de internação, o avô foi submetido a uma série de violações. A imagem mais revoltante, registrada em vídeo, mostra o idoso deitado sobre um saco preto, utilizado normalmente para o transporte de cadáveres — mesmo estando vivo e lúcido.
“É uma cena que eu nunca imaginei ver com o meu avô. Colocaram ele em cima de um saco usado para embalar gente morta. Isso é um absurdo, é desrespeitoso, é como se ele já estivesse condenado. Ele estava vivo, estava lutando”, desabafou Raimundo, emocionado.
“Ele entrou andando e saiu morto”
Segundo a família, Manoel deu entrada no hospital no dia 28 de julho para receber uma bolsa de sangue. Mesmo sem apresentar um quadro grave, ele demorou a ser internado e passou dias sem alimentação adequada, com falhas na troca de sondas e curativos malfeitos. Além disso, a equipe médica teria recusado a realização de exames básicos.
“Meu avô foi internado só para receber sangue. Estava lúcido, se alimentando, tinha sinais vitais estáveis. Mas foi tratado como um condenado. Faltou comida, quebraram a sonda, deixaram ele um dia inteiro sem se alimentar. Quando questionamos, éramos tratados com grosseria. Isso é tortura com um idoso”, denuncia o neto.
A morte de Manoel aconteceu horas antes de uma visita agendada da Comissão de Direitos Humanos, que havia sido acionada pela família após suspeitas de negligência. Segundo relatos, quando os familiares retornaram ao hospital para a visita, descobriram que o idoso havia falecido cerca de quatro horas antes — e tudo já estava preparado para o sepultamento, inclusive com caixão e documentos prontos.
“Foi tudo feito às pressas. Quando questionamos, o hospital já tinha emitido um laudo de causa natural. Mas a presidente dos Direitos Humanos exigiu a realização de autópsia. O hospital, então, cancelou o primeiro laudo e fez outro. Mesmo assim, tentaram enviar ao IML o laudo antigo. Isso é má-fé”, acusa a família.
Indignação e apelo por justiça
Com gritos de revolta e dor, familiares afirmaram que o idoso foi mais uma vítima da omissão do Estado. Eles cobram uma investigação rigorosa por parte do Ministério Público, responsabilização dos envolvidos e um posicionamento do governador Wilson Lima.
“Governador, olhe por nós. Meu avô entrou andando e saiu dentro de um caixão. E não foi só ele. No Platão Araújo e no João Lúcio tem muitas outras vítimas. Chega de mortes silenciosas. Chega de tratar nossos idosos como lixo. Nós queremos justiça”, disse uma das filhas de Manoel.
A família registrou boletim de ocorrência por homicídio e exige respostas claras. “Não vamos aceitar um atestado de óbito com falência múltipla dos órgãos. Ele morreu por negligência, isso sim. Não vamos descansar enquanto isso não for apurado”, finalizou Raimundo.
O que diz o hospital?
Até a publicação desta matéria, o Hospital e Pronto-Socorro Platão Araújo não havia emitido nota oficial sobre o caso. O espaço segue aberto para esclarecimentos.