“Ela gritava de dor e ninguém ajudou”: bebê morre após horas de descaso no Instituto da Mulher Dona Lindu, em Manaus; veja
Manaus – A denúncia de uma jovem que perdeu o bebê após horas de dor, sangramento e demora no atendimento no Instituto da Mulher Dona Lindu, em Manaus, expõe mais um caso de negligência e descaso na saúde pública do Amazonas. O episódio, relatado pela própria família, revela o sofrimento de uma gestante de risco ignorada por médicos e servidores enquanto lutava para salvar a vida da filha.
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A jovem relata que chegou à maternidade por volta das 21h25, já com fortes contrações e sinais de sofrimento. O primeiro atendimento indicou 4 centímetros de dilatação, mas, segundo a médica plantonista, ainda não havia motivo para internação. A orientação foi que ela retornasse apenas às 2h da madrugada para nova avaliação.
Enquanto as dores aumentavam, o sangramento também se intensificava, mas, ao voltar à unidade, a paciente foi atendida por outra médica, que manteve a decisão de não internar. Mesmo diante da piora, o pedido da mãe por uma cesariana de emergência foi ignorado.
“A dor dela era insuportável. Eu pedi pra médica fazer uma cesárea, mas ela respondeu que não havia necessidade. Disse que era normal”, contou a mãe, revoltada.
A madrugada seguiu em desespero. Por volta das 4h, a gestante, que tinha uma gravidez de risco devido ao uso de duplo J nos rins, sangrava, chorava e implorava por socorro. Segundo o relato, não havia médico disponível no momento, e quando um profissional chegou, se recusou a atendê-la.
“Eu pedi, chorando, para ele examinar minha filha. Ele respondeu: ‘Agora sua filha é prioridade da unidade? Todo mundo está esperando, senhora.’ E continuou chamando outras pacientes, mesmo vendo o estado dela”, relatou.
A mãe afirma que o médico chegou a admitir agir por birra, depois de ser cobrado. “Perguntei se ele não ia chamá-la só porque reclamei. Ele respondeu: ‘É isso mesmo.’”
Somente às 5h30 da manhã, quando a família já planejava ir embora e buscar outra unidade, o médico finalmente chamou a paciente. O toque indicou 7 centímetros de dilatação, e ela foi encaminhada para o pré-parto. Mas o descanso e o alívio não vieram.
“Lá dentro foi outro descaso. Pedi várias vezes para ouvirem o coração da bebê. Diziam que só a enfermeira podia fazer isso, mas ela estava em outro parto. Quando finalmente vieram, já não havia mais batimentos”, contou, em prantos.
A bebê nasceu sem vida. A mãe afirma que ficou cerca de 10 horas com o corpo da filha dentro do próprio ventre, enquanto ouvia que havia “emergências mais urgentes”.
“Se tivessem feito uma cesariana, minha neta poderia ter sido salva. Foi uma gravidez de risco e mesmo assim deixaram minha filha sofrer até perder a filha dela. A dor é imensa. Queremos justiça”, desabafa a avó.
Pedido de Justiça e omissão do Estado
A família cobra que o caso seja investigado com rigor pelo Ministério Público do Amazonas (MP-AM) e pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), responsável pelo Instituto da Mulher Dona Lindu. Eles exigem punição aos profissionais envolvidos e medidas que impeçam novos casos de negligência obstétrica no local.
O caso revela mais uma vez o abandono da saúde materna no Amazonas, onde relatos de demora, desrespeito e omissão em maternidades públicas são recorrentes. Mulheres denunciam que o Instituto da Mulher Dona Lindu, que deveria ser referência em atendimento humanizado, se tornou símbolo de sofrimento e perda, conhecido entre pacientes como o “cemitério de bebês”.
Mesmo diante das sucessivas denúncias, o governador Wilson Lima e a Secretaria de Saúde seguem em silêncio, sem apresentar medidas concretas para garantir atendimento digno a gestantes e recém-nascidos. A morte dessa criança, como tantas outras, escancara a falta de gestão, empatia e responsabilidade do governo estadual com a vida das mulheres amazonenses.
“Quantas mães ainda vão precisar enterrar seus filhos por causa da negligência dentro do Dona Lindu?”, questiona a família.



